quarta-feira, 18 de maio de 2011

eu não sou outro

Não gosto muito de Fernando Pessoa. Eu leio, mas não morro de amores por sua genialidade, mas ao ler um de seus poemas no meio da tarde de hoje, me surpreendi lendo a mim mesma. Estranho, mas senti falta de alguém que eu deveria ser, mas não sou.

As coisas na minha vida acontecem sem que eu planeje. Quando dou por mim já estou lá e não há como voltar atrás; até porque não gosto de dar passos rumo ao passado. Lembro que acordei um dia e estava fazendo faculdade. Acordei no outro e estava vivendo em São Paulo. Voltei pra cama e quando acordei já era editora de revista. Tudo assim. Cansei e resolvi mudar o rumo da história. Não deu certo. Acordei de novo e cá estou na cidade onde eu cresci, há poucos metros da casa onde eu nasci e cresci... É tão estranho passar naquela rua. Eu conheço suas laterais. Está tudo igual. As casas ainda são as mesmas, mas algumas pessoas se foram. Não há mais espaços como antes porque houve um tempo em que para ir para a rua de baixo brincar era só atravessar um terreno baldio, mas "plantaram" uma casa lá. Que saco (rs).

A Valéria não mora mais lá, nem a dona Ana e tão pouco a mãe do Claúdio. A dona Ilza continua sendo a vizinha do lado. O ferro velho do seu Prado também continua naquela casa velha, caindo aos pedaços. Aprendi a ler em suas ilusões de mesas e cadeiras, feitas de pneus e paletes de madeira. A dona Maria, avó da Aline morreu. A mãe da Aline fugiu e o pai de se matou de desgosto. O irmão dela sumiu. A dona Rafaela continua costurando pra fora e os filhos dela continuam "amigos"  e ela adora vê-los juntos. Ela continua cantando a união de seus filhotes.  Coisa estranha. O coronel continua mandando na rua e tem seu posto na calçada como antes, mas esta com os cabelos brancos. A cara continua azeda. A espanhola voltou para sua terra (não sei dizer se ela era mesmo espanhola) mas dançava com roupas coloridas, logo... A Bia continua com as marcas no rosto. Ela se queimou quando tinha cinco anos. Foi um alvoroço na rua. O algodoal atrás da casa não existe mais. E claro: tem muita gente estranha na rua. A casa onde eu cresci continua lá, com a goiabeira no meio do quintal, as flores, o caminho para a garagem que nunca teve carro e as janelas verdes a dar para o horizonte.

Queria rever minhas coisas, mas sei que já foram para o lixo. Há pessoas que não perdoam quando você não segue a marcha e eu não segui. Não quis ser igual a essa gente que passa o dia contando histórias das vidas alheias. Como me dói certas coisas.

2 comentários:

Francys Oliva disse...

aff, acredito que seria melhor... Bom... ler Fernando Pessoa(rs).

Valéria lima disse...

Que lindo seu texto e tão cheio de nostalgia, vc escreve divinamente. Parabéns!

BeijooO*